O ser humano não percebe, mas o pecado, a ausência da santidade, é o nosso grande mal. Na sua fadiga e tradição religiosa ele busca a Deus por muitas razões, mas mui raramente por causa da sua santidade. Vai a Ele por causa das enfermidades, desastres, apertos financeiros, desavenças familiares e coisas desse tipo. Quando o viver dói, se recorre a Deus como alguém que vai à farmácia em busca de um comprimido que tire a sua dor de cabeça. Assim, o que buscamos na maioria das vezes é um paliativo, um alívio rápido e não uma solução. Pois isso implicaria em admitir que a fonte de muitos dos nossos males é um viver insubmisso, incrédulo e isso exigiria compromisso, o que normalmente não é o que buscamos.
Mas sabedores de que somos extremamente frágeis e de que tudo aqui é passageiro, pois todos os dias assistimos a mortes e pesares, a esta altura já deveríamos estar conformados com as perdas, com os assaltos repentinos que a vida nos proporciona, tais como perda de familiares, perda de bens, saúde, status, condição financeira... Já deveríamos estar mais atentos quanto a necessidade de se ter um sentido maior para a vida do que o conforto e o bem estar físico. No entanto, frequentemente nos distraímos e passamos a viver como se não fossemos morrer, e como se já estivéssemos prontos, como se não faltasse nada no que diz respeito à nossa integridade. E assim seguimos até que, assolados por um imprevisto, ficamos novamente assustados, com medo e corremos para Deus na esperança de que ele nos restaure a tranquilidade que perdemos, nos dê novamente um Doril.
Mas nenhuma calmaria dura para sempre. A vida segue passando. Estamos envelhecendo, dores, angústias e solidão seguramente virão e por fim a morte. E quando chegarmos a esse momento de dizer adeus a essa vida, se você ainda tiver alguns segundos para refletir, talvez irá notar que sempre foi frágil, que a morte sempre esteve ao seu lado, e que por isso deveria ter se preparado melhor para esse momento. Então, dependendo do que você tiver priorizado nessa vida (o eterno ou o efêmero) ao perceber que está partindo sem poder levar fama, sucesso, bens, prazeres e frustrado pela falta de amor, mansidão, paciência, bondade, humildade, meiguice com que viveu, irá admitir o quanto foi insensato, tolo, imprudente. E tendo corrido atrás do vento, estará partindo de mãos vazias. Nada viu na vida. Não percebeu a glória de Deus.
Há aquele porém, que por ter priorizado a oração, a quietude, o contentamento, o contemplar, o confiar, o submeter-se e deixar-se conduzir, moldar pelo eterno e poderoso Deus, se deixou iluminar, impressionar pela exposição à sua glória, esse estará almejando aquele momento e será para ele o momento da coroação. Veja as palavras de Paulo ante a possibilidade real de ser morto: “ Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado. Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda.” II Tm.4.6-8
(Continua)
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Pr. José Soares Filho
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